sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

RESTAURAÇÃO DA ESPERANÇA

Lula da Silva, que hoje cessa o seu mandato como Presidente do Brasil, está longe de ser o “meu” presidente.
Não, não é uma questão de nacionalidade. Lido bem com essa situação, para além das fronteiras não me causarem pruridos, entendo que as nacionalidades não separam os homens, quando muito caracterizam-nos.
Lula não é o "meu" presidente porque uma vez no poder, não direi que traiu as suas promessas eleitorais no seu todo, mas que ficou aquém, disso não tenho duvidas. A questão da posse da terra foi uma delas, mas outras não menos importantes foram igualmente afectadas por aquilo a que convencionaram denominar por pragmatismo.
Seria contudo redutor se não tivesse em conta as transformações sociais no Brasil. Redutor e ingrato!
Lula não foi um presidente qualquer, não foi mais um. Lula foi responsável por, entre outras medidas, pelo recuo da pobreza entre a população brasileira. Ainda há muitos pobres no Brasil, cerca de 22% da população é pobre, porém antes dele os pobres eram cerca de 35%. Conseguiu por outro lado que o salário mínimo subisse quase mais 10%. Com ele na presidência o Brasil conheceu o seu maior período de crescimento económico.
Dir-me-ão, é pouco para quem tanta expectativa criou!… Talvez tenhais razão, talvez!... ainda assim não deixo de sentir uma satisfação muito grande pela prestação e pelos (poucos) resultados conseguidos e muito particularmente pelo seu empenho na construção de um Brasil, e por consequência, um mundo menos desigual. Essa conquista, uma nação mais igualitária, [tentando nivelar por cima] digam o que disserem jamais lhe poderão retirar, Lula é o responsável.
Por outro lado jamais esquecerei que Lula foi um presidente que emanou do sindicalismo, um presidente operário e que o seu desempenho demonstrou ao mundo, se tal fosse necessário, que gente da nossa igualha é competente e capaz e que os pobres e os desprotegidos não estão condenados a ser dirigidos pelas elites, tenham elas a natureza que tiverem, a nossa gente é capaz!
Mas tem mais, Lula provou que um Presidente Operário não precisa da muleta da religião para conduzir os destinos do povo que o elegeu, como aconteceu com outros. Acresce por ultimo que o pragmatismo não lhe anulou o coração e muito menos a emoção.
Por isso na hora da partida, é com emoção que digo: Obrigado Lula, obrigado pela restauração da esperança! Estávamos muito precisados!... Depois de tanta regressão, de tanta inversão, de tanto recuo, depois de tanta frustração era preciso reinvestir na esperança e Lula fê-lo com muita determinação.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Ataque ao Serviço Nacional de Saúde

António Arnault não se cansa na denúncia aos atropelos e atentados ao SNS (Serviço Nacional de Saúde), mesmo quando essas malvadezas provêm da sua família política, o PS. Partido de que é um dos fundadores.
Enquanto uns, a troco de favores ou lugares, se calam, António Arnault tem feito soar o seu mais que autorizado grito, denunciando não apenas o desvirtuamento do Estado Social, como as praticas conducentes a esse efeito. Não! Não são todos que se calam, alguns não se intimidam e dizem o que têm a dizer. Vou referir apenas dois nomes, para além do próprio Arnault, Ana Benavente e Ana Gomes, mas outros há que vão falando… Manuel Alegre, por exemplo…
António Arnault é uma voz mais que autorizada, não apenas porque é o “pai”, mas porque lhe remanesce em coragem o que a outros sobra em cobardia. Sim, Arnault já tem uma certa idade, está “velho”, talvez não tenha ambições políticas para satisfazer, enquanto outros têm todo um caminho a percorrer…
Arnault talvez seja hoje, apenas uma reserva da República. Talvez!...
Eu porém acredito numa gesta de homens que se bate por ideais, mais que por carreiras, por muito promissoras que elas possam ser. Que tem convicções, mais que ambições… Por isso retiro o “talvez” e inclino-me perante a perseverança e a dignidade que revela, contrastando com os silêncios comprometidos de muitos dos seus correligionários políticos.
Mas se me é licito opinar, creio que é chegada a hora de fazer saltar a Reserva Republicana. Já chega de pungentes Estados de Alma, precisamos de algo mais. “Isto já lá não vai” com indignações mais ou menos contidas, não sei se “vai à porrada”, se por qualquer outra via!? Não sei…
Para já creio que se impõe não apenas agitar as aguas, é preciso pelo menos “partir a loiça” e se necessário bater com a porta, para não ficar enterrado nos cacos.
Meu caro Arnault, se o PS perdeu toda a razoabilidade, que há nele que o retenha?
Loas à “ética do socialismo” não resolvem o problema concreto das pessoas. As pessoas precisam de pão e, no caso em apreço, precisam de usufruir não da retórica socialista, mas do constitucional direito à saúde.
Como diria a “velha mãe”: «Se é o teu próprio irmão que te faz viver de joelhos, doa a quem doer, faz o que tens a fazer!»

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Carta ao Menino Jesus

Meu querido Jesus:


Aqui estou neste sítio pobre

Nesta rua fria

Com as árvores vermelhas

A anunciar a tua chegada.

Os anjinhos de estrelas

Que vieram a meu lado

Quando eu estava sentado naquela rocha

Disseram-me que não chorasse

Porque teria umas calças vermelhas

E uma camisola de lã branca.

Mas só tenho os pés roxos

Os dedos não os sinto.

Se me deixasses uma caixa de fósforos

Para me aquecer

Ou me levasses nos braços para o céu

Como se fosse um farrapo de neve

Essa era a minha melhor prenda de Natal.



Vítor Moreira – nove anos

In: Maria Rosa Colaço, A Criança e a Vida

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Francisco Lopes, uma agradável surpresa.

Nas presidenciais, o meu voto já está decidido, vou votar na candidatura com mais potencialidades para derrotar Aníbal. Essa candidatura é, no meu ponto de vista, a protagonizada por MANUEL ALEGRE.
Tal facto, não me tolda o discernimento para analisar e reflectir sobre as propostas e a prestação dos restantes candidatos, assim cumpre-me registar que a candidatura do Dr. Fernando Nobre, contrariamente às minhas expectativas, surpreende pela negativa; Fernando Nobre desgosta-me sobretudo pela insistência em evidenciar a sua obra, meritória certamente mas dispensável como etiqueta neste combate. Foi deprimente sobretudo no debate com o candidato Francisco Lopes. Nobre não deixa de ser uma pessoa respeitável, altruísta e generosa, posicionado sem duvida ao lado dos desfavorecidos e desprotegidos, mas sem um programa politico claro e sem solidez nas poucas propostas que faz.
Manuel Alegre, desgosta-me nalguns aspectos da sua estratégia. Embora sejam compreensíveis as razões, nomeadamente o namoro ao Partido Socialista. – A verdade é que ele nunca deixou de reivindicar a qualidade de militante do PS e, quando lhe dei o meu apoio sabia disso. – Muitas vezes, para atacar a estratégia de Aníbal e de Passos Coelho [Quem Tramou Roger Rabbit? Quem é que disse ao moço que ele tinha jeito para a politica?] acaba colado ao PS. Desgosta-me! Ainda assim creio que Manuel Alegre, com todos os seus defeitos e predicados, tem um projecto politico claro, que no actual contexto é bom, e é sem equívocos, um factor de congregação do povo de esquerda, no sentido de travar a concretização do velho sonho de Sá Carneiro, «Uma maioria, um governo e um presidente!» impedindo a reeleição de Aníbal. Para bem da nossa saúde politica e do país, impõe-se derrotar Aníbal. Quem melhor que Alegre para concretizar esse objectivo?
Mas não é de Alegre, ou de Nobre que quero falar. Dedicando-lhe poucas linhas quero inclinar-me perante a prestação do candidato Francisco Lopes.
O candidato lançado pelo PCP, é nesta corrida presidencial uma agradável surpresa. Francisco Lopes tem neste combate acrescentado esquerda à esquerda, tem, por outro lado galvanizado algum eleitorado que não se revendo nos restantes candidatos, dificilmente sem a contribuição deste candidato se envolveria nesta luta para derrotar Aníbal. Francisco Lopes tem sido mais que isso. Ontem no debate com Aníbal voltou a prestar um óptimo serviço ao país e à democracia, não se coibindo de responsabilizar Aníbal pelo estado a que chegamos, de o ligar aos PEC e a este malfadado orçamento, ao roubo nas pensões, nos ordenados, à desmedida carga fiscal, bem como à roubalheira do BPN. Neste ultimo ponto Aníbal fechou-se em copas, talvez porque saiba que tendo telhados de vidro, nomeadamente amizades não recomendáveis, o melhor para ele, que não para o país, é ficar calado.
Acresce por ultimo que nunca um candidato presidencial oriundo do PCP pode ser responsabilizado pela derrota do povo de esquerda numa eleição presidencial. Da ultima vez que isso aconteceu, eleição de Aníbal, tal facto ficou a dever-se única e exclusivamente à arrogância de José Sócrates e à petulante vaidade e ambição desmedida de Mário Soares.
Porque não vou votar então em Francisco Lopes?
Reconhecendo-lhe os méritos registados e a capacidade política, bem como a justeza das suas propostas neste combate, não me revejo no seu projecto de sociedade, que sendo muito semelhante ao meu modelo difere no conteúdo. Por outro lado a convivência, sobretudo no mundo sindical sugere-me alguma contenção numa putativa relação.
Perguntar-me-ão: E o PS, não é pior?
Talvez, mas eu prezo muito a liberdade individual e a minha independência. Por outro lado, apoiar a candidatura de Manuel Alegre, nada tem a ver com qualquer entendimento com o PS.
A candidatura de Alegre, é ao fim e ao cabo, uma candidatura da sociedade civil, do povo de esquerda se quiserem, que se impõe aos partidos que o apoiam, ao PS em particular, enquanto a de Lopes emana de uma directiva do CC do PCP.
Mas aparte isso, inclino-me perante a prestação, a combatividade e a clarividência de Francisco Lopes, oxalá não borre (borrem) a pintura no debate Alegre vs Lopes.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

OS RICOS QUE PAGUEM A CRISE!

Esta era uma palavra de ordem da velhinha UDP – Partido com o qual despertei para a luta política organizada, hoje transformado numa mera associação. – pintada em diversos muros do país nas crises dos anos 70 e 80.

Curiosamente a “palavra de ordem” que mobilizou muitos portugueses, que justamente, tal como a UDP, entendiam e provavelmente entendem ainda hoje que a crise deve ser paga por quem a provoca, foi hoje recordada por Freitas do Amaral na entrevista que concedeu a Maria Flor Pedroso. Freitas, longe da crispação e até do protagonismo da direita e estrema direita que em 1986 se mobilizou em torno da sua candidatura presidencial, disse que na actual crise, a factura da crise não está a ser paga por todos, afirmou mesmo que são os mais pobres a pagá-la. Lembrou que hoje “não ouvimos dizer, nem a direita nem a esquerda democrática OS RICOS QUE PAGUEM A CRISE”.

[Freitas e Maria Flor, tiveram o cuidado de excluir deste bloco - Esquerda Democrática -  o BE e o PCP, o que convenhamos, embora não fosse essa a intenção, acabaram por aplicar um equilibrado critério de justiça, pois não faz qualquer sentido misturar o que não é sequer comparável. Dai a necessidade de adjectivar aquela “esquerda” como democrática. Pois que seja "democrática" já que esquerda não é!]

Por um lado entendo o raciocínio do professor do sobretudo verde, na verdade aquela palavra de ordem é quase um arcaísmo da nossa politica, com um odor a PREC demasiado acentuado, susceptível de ferir algumas susceptibilidades, por outro acho que o professor anda demasiadamente distraído ou confuso. Bastaria prestar atenção às intervenções dos deputados do BE, do PC e dos Verdes para perceber que todos eles, sem excepção, todos eles reclamam e exigem que sejam os poderosos, os banqueiros, os agiotas e especuladores a pagar a crise. Só não ouve nem vê quem não quer, ou quem ganha e lucra com as omissões. Mas ainda assim saúdo a indignação de Freitas do Amaral.

Porem, para que “a gente não se engane” como diz um camarada meu, acrescento: Crise que eles; poderosos, banqueiros, agiotas e especuladores provocaram com a cumplicidade das direitas e das “esquerdas democráticas”. Umas por conluio e benefícios outras por silêncios, cumplicidades, cobardias, falta de carácter e, evidentemente, com muitos proveitos pessoais à mistura.

Pois bem professor, se assim é explique lá “para a gente entender” a razão que o leva a apoiar incondicionalmente um dos pais da crise, precisamente o candidato Aníbal Cavaco Silva? Professor, na política, nestas coisas que mexem com a nossa vida, não chega largar umas larachas bonitas ou que caiem bem no sentir da plebe, é preciso também ser coerente. Mas isso é pedir demais a quem sempre flutuou lá por cima…

Valha-nos a frase, da minha parte a exigência: OS RICOS QUE PAGUEM A CRISE!

Um reparo ao serviço publico de radiodifusão

A propósito das entrevistas de Maria Flor Pedroso aos “Candidatos que o povo não escolheu”.

Ontem foi entrevistado Carlos Marques, candidato apoiado pela UDP e pelo PCP(r) em 1991, candidato de que, com muita honra, fui mandatário para o concelho de Setúbal. Curiosamente no anuncio do programa, ao fim da tarde de ontem, chamava-se a atenção para a entrevista de Freitas do Amaral, também ele um candidato que o povo não escolheu, dizendo que Freitas era o entrevistado da semana.
Estas artimanhas não são inocentes. Candidato da semana? Então e o Carlos Marques não foi entrevistado na mesma semana? Pelos vistos as semanas já não de domingo a sábado?
É este tipo de notícia, de promoção de programas, que nos intoxica que manipula consciências e adultera vontades.
Já depois da entrevista de hoje a Freitas do Amaral, e até mesmo antes (a entrevista estava gravada) foram destacadas algumas das ideias e opiniões do professor apresentadas nos serviços informativos. Curiosamente ontem, Carlos Marques tinha revelado que não concluiu a licenciatura em engenharia antes do 25 de Abril por ter sido expulso do ensino universitário. Carlos Marques e outros setenta estudantes do Técnico recusaram, na sequência de uma greve aos exames, pedir desculpa ao Ministro da Educação de então, Veiga Simão de seu nome, acabaram expulsos e com a sua vida académica e não só complicada.
Contrariamente, um dos actuais candidatos à presidência, o Sr Aníbal Cavaco Silva terá procedido precisamente ao contrário, tendo pelo seu punho declarado fidelidade ao regime.
Mas esta questão, pertinente e reveladora de carácter não mereceu qualquer destaque por parte dos promotores do programa, como não mereceu qualquer referência ao facto do Ministro da Educação do regime fascista, ter sido ministro (na democracia) de um governo socialista e ser hoje um incondicional apoiante de Aníbal Cavaco Silva.
E isto é serviço público, olha se não fosse!...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Uma foto, boas recordações.


Dos filhos, regra geral, os pais têm boas recordações. Eu não fujo à regra e, como são três os meus filhos, tenho as recordações a triplicar.
Hoje, em mais uma tentativa para arrumar o meu arquivo de fotos – devia ser um arquivo, mas são apenas alguns milhares de fotos mais ou menos à solta no meu PC –encontrei uma do meu filho Dinis interpretando «Os malefícios do tabaco» («O vrede taboka») de Tchekov. Olhando a foto, dei por mim a recordar a noite em que assisti maravilhado ao espectáculo promovido pelo Grupo “A Descoberto”. O evento teve lugar, já lá vão uns anitos, numa colectividade de Setúbal o Clube Recreativo Palhavã.
A peça de Anton Pavlovich Tchekhov, dramaturgo russo (1860 – 1904) foi representada pelo Grupo de Teatro “A Descoberto”, cabendo ao Dinis (meu filho) a interpretação, única porque na realidade trata-se de um monólogo. O Dinis fez então uma interpretação magistral. Eu sei que a minha leitura pode ser tendenciosa, mas ainda assim tratou-se de uma interpretação magnífica! Maravilhada a bem composta assistência daquela noite no Clube Recreativo Palhavã de Setúbal dispensou uma forte ovação ao trabalho do Dinis.
Dessa noite ainda retenho a alegria de ter presenciado, uma extraordinária vitória pessoal de um jovem e promissor actor. O Dinis, não só interpretou magnificamente o monólogo como se superou a si mesmo, vencendo a fobia de enfrentar a assistência, de se expor perante as pessoas. À custa de uma tensão nos limites e de um trabalho notável, onde não faltou disciplina, metodologia e dedicação, o Dinis revelou (-me) potencialidades que de todo, por estranho que pareça, eu como pai não as conhecia.
Embora o sucesso fosse dele, os amigos, dele e meus, não deixaram de me felicitar nessa noite. Senti, então mais uma vez, o quanto é gratificante ser pai destes filhos.
Ao revê-la sinto necessidade de repetir Parabéns Dinis! Obrigado filho!





sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Castelo de Vide - Preservar o património sim!


À atenção do gabinete de arquitectura e ou obras – não conheço a denominação adequada – da CM de Castelo de Vide, do poder politico concelhio e das instituições que emitem pareceres sobre as obras particulares no concelho e na vila em particular.


A preservação das fachadas e de todo o exterior dos edifícios e moradias do concelho de Castelo de Vide, bem como das portadas e respectivas portas é algo que de um modo geral tem sido alcançado no concelho. Tal facto é, sem dúvida, algo de que, enquanto castelovidenses nos devemos orgulhar, porem tudo deve obedecer a regras sensatas e equilibradas. Jamais no meu entender a preservação do património deve condicionar para lá do razoável, a vida dos cidadãos.

Temos assistido, no que confere às obras particulares na vila de Castelo de Vide a uma ingerência inadmissível e insustentável, por parte do poder municipal, via gabinetes técnicos, que condiciona seriamente a vida dos munícipes. 

Não entendo nem aceito, em nome do que quer que seja, no que confere aos interiores qualquer ingerência nas obras particulares,  para além do que é domínio da segurança dos próprios e dos edifícios contíguos. Fora deste contexto a ingerência deixa de ser razoável para entrar nos domínios da prepotência.

Com que legitimidade, por exemplo, se impõe a preservação de um sobrado de interior e não se deixa o proprietário aplicar uma placa?  Onde e quando a placa interfere com a preservação do património?

Convenhamos, a nossa espécie no domínio da habitação já viveu em buracos no solo, em grutas, em palhotas, barracas e demais equipamentos. Já vivemos em casas de madeira e mais tarde em alvenaria… Preservar esses equipamentos, os que chegam aos nossos dias, é sem duvida uma politica sensata, querer que as pessoas as habitem é estúpido e absurdo.

Se há, e creio que sim, que há interesse em preservar algumas habitações tal como eram, tal como foram concebidas originalmente, incluindo interiores, então a autarquia deve adquiri-las e inclui-las no domínio público  protegido. O que não se pode é exigir que sejam os cidadãos a condicionar a sua vida em nome dessa memória. 
Se as fachadas entram no domínio da estética e dos conceitos de imagem pública, os interiores são do domínio privado e norteiam-se pelo que a técnica e a engenharia vai desenvolvendo para nos facilitar a existência.

Na questão presente, a pertinência coloca-se nos interiores, os quais só dizem respeito aos usufrutuários e proprietários, jamais o poder politico, municipal ou nacional deve imiscuir-se nessa matéria.

Anexo um conjunto de fotos de uma aldeia minhota – Campos, concelho de Viera do Minho – onde a coexistência do mundo rural e a preservação do património arquitectónico local não colidem com o gosto e as condições requeridas pelas novas gerações ou colocadas ao seu serviço. No exemplo as fachadas e portadas são preservadas, enquanto nos interiores são usadas as técnicas e aplicados materiais modernos que tornam a vida das pessoas mais atractiva e mais interessante.

Património é uma coisa puritanismo é outra!





Mais fotos no aqui

Palhaçada e falsa indignação!

A propósito do “fundo para os despedimentos”, pago por todos nós, que já paira nas cabeças pensantes do governo.
Para Sócrates a questão colocada por Francisco Louçã ao questionar: «Quantos trabalhadores o governo vai despedir?» é perversa.
Será? Só espero que não seja tão perversa quanto o foi, a demagogia e a falsa indignação protagonizada por Sócrates no debate com Louçã a propósito da tributação da classe média, nomeadamente dos Planos Poupança Reforma. Dizia Sócrates, o senhor quer castigar a classe média, o senhor quer isto e aquilo, o senhor…
Escassos meses depois com ou sem PEC, com ou sem FMI, por vontade própria ou por obediência cega à Alemanha e aos mandantes da Europa, Sócrates esbanja milhões no BPN, na palhaçada da cimeira da NATO e demais desmandos; abdica da tributação aos grandes negócios como o da PT/Telefónica, corta nos salários e aumenta os impostos.
Como é evidente a indignação de Sócrates perante as injustiças sociais não passa de arte circense, sem ofensa para os artistas de circo, é mais do tipo circo rasca!

O meu voto

«Há cinco anos fiz parte da Comissão de Honra de Manuel Alegre e desta vez recusei. (…) Manuel Alegre foi pedir a bênção a Sócrates a quem tinha feito grande oposição. Isso faz-me muita confusão. Até posso votar nele, mas não entro na campanha.»
António Manuel Ribeiro, (UHF) hoje nas Entrevistas Imprevistas de “O Sol”


Também a mim me fez e faz muita confusão. Contudo tendo em conta a actual conjectura, não tenho reservas no que confere ao meu voto nas presidenciais de 23/01/2011.
Alegre, não é um defensor integral dos meus princípios, caso os comungássemos, tínhamos feito o mesmo percurso político. Não fizemos. Ele é do PS e eu nunca me envolvi com aquela “família” político/partidária. Muitas vezes estivemos, cada um no seu lugar e com a sua dimensão, nas antípodas do pensamento e da prática politica. Se não divergíssemos, o mais provável seria fazermos militância política no mesmo partido. Não fazemos!
Quando falo em conjectura, falo da correlação de forças e da necessidade imperiosa de penetrar na base eleitoral do PS, a qual é, queiramos ou não, determinante nas eleições. E não se trata de oportunismo político, a politica é mesmo isso, delinear estratégias para influenciar de forma determinante a governação e o poder com vista a uma nova politica. A qual – na falta de outro sistema melhor – se desenvolve e pratica em DEMOCRACIA, sendo que esta tem como ferramenta basilar o poder do VOTO. O voto e a confiança dos povos, é o que os políticos em democracia ambicionam. Procurá-lo, solicitá-lo, desejá-lo é não só lícito como recomendável para uma politica séria e transparente. Negociar e procurar apoios não é crime, é lícito e é recomendável.
Não se trata porem de almejar o poder a qualquer preço, há regras e princípios basilares. Regras, princípios éticos e políticos que, não tenho pejo em assumir, Manuel Alegre preenche.
  • Quero preservar a irreverência; Manuel Alegre é irreverente!
  • Adopto a rebeldia como motor de transformação; Manuel Alegre é rebelde!
  • Ambiciono uma sociedade mais justa e mais igual; Manuel Alegre também!
  • Bato-me por igualdade de oportunidades; Manuel Alegre assume essa bandeira!
  • Arrogo o antifascismo como certificado político; Manuel Alegre é antifascista de antes e depois de Abril!
  • Refuto o silêncio como trampolim na política; Manuel Alegre, por vezes contem-se, mas não se cala!
  • Combato o comodismo e o porreirismo no exercício da cidadania; Manuel Alegre não se acomoda e nem se deixar ficar!
  • Vejo na cultura um valor estruturante da integridade cidadã; Manuel Alegre é um homem de cultura!
Enfim, Manuel Alegre, causa-me algumas perplexidades, como a de quase mendigar o apoio do PS – preferiria que o não tivesse feito – mas ele apesar de cultivar a utopia não dispensa o pragmatismo. E a verdade é que os que já se decidiram, ainda somos poucos para impedir Cavaco de renovar o mandato, que “sem saber ler nem escreveu” alcançou nas últimas presidências.
“Sem saber ler nem escrever”, mas pior que isso e para desgraça do nosso povo, imerecidamente alcançado!
Derrotar Cavaco é uma questão primordial, tanto mais que nunca esteve tão perto de se concretizar o velho lema de Francisco Sá Carneiro: Uma maioria; um governo e um presidente.
A cultura neo-liberal dominante rejubilaria se, para nossa desdita, tal intento se concretizasse.
Por tudo isto, e desgostado como António Manuel Ribeiro, o meu VOTO vai conscientemente para MANUEL ALEGRE.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Festival Internacional de Folclore Fortios 2009

Encerramento do Festival Internacional de Folclore Fortios 2009, em Póvoa e Meadas e Castelo de Vide.



terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Levantar o dinheiro da banca, pois claro!

Eric Cantona ex-futebolista francês, terá feito um apelo de âmbito mundial no sentido de levar as pessoas a, como forma de protesto, levantarem o seu dinheiro dos bancos.
Protesto não sei bem a que propósito, muito embora sobejam razões para protestar contra a banca e os banqueiros.
Não sei se a proposta deve ser levada a serio, mas a ideia do protesto contra a banca é-me particularmente grata. Desta ou de outra qualquer forma, urge protestar. Contra a banca, mas não só, é preciso organizar os protestos, identificar os alvos e afinar a pontaria.
Levantar o dinheiro da banca… claro que sim, aplaudo a ideia, serei porem um elemento passivo neste protesto. Passivo porque ninguém recolhe, a não ser por roubo, o dinheiro que não tem! Claro, há por aí uns quantos patos bravos que vivem do dinheiro que não têm, são uma espécie de aves de arribação, muito bem conceituados entre os seus pares, parte dos quais lideram a politica Europeia. Não, não me refiro aos detentores de pequenos créditos, tão pouco falo do endividamento das famílias, esses são regra geral vitimas, falo dos outros, desses que, ironia das ironias, têm descredibilizado por completo o sistema; desses que estão ligados às fraudes monumentais do tipo BPN e outros de igual calibre. Nacionais e internacionais.
Segundo o “Diário Económico” o economista alemão Klaus Abberger, terá declarado que se as pessoas respondessem ao apelo de Cantona e levantassem os seus depósitos, "podia gerar-se rapidamente o pânico (…) e o sistema bancário podia desmoronar-se.”
Por mim entendo que o pânico enquanto tal, sobretudo se alastrasse às populações, era capaz de ser preocupante, mas se porventura provocasse o desmoronamento do sistema bancário [Vá lá críticos, tendes aqui material para me malhar!] a humanidade era capaz de ficar a ganhar.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Uma fábula que não é do reino animal

(…) Se eu mandasse neles / os teus trabalhadores / seriam uns amores: / greves eram só/ das seis e meia às sete, / em frente a um cassetete; / primeiro de Maio / só de quinze em quinze anos; / feriado em Abril, / só no dia dos Enganos (…)
Sérgio Godinho

Ou resolvemos no imediato a situação, nomeadamente contra-atacando com a exigência não apenas a reposição de direitos alcançados como ampliando o grau dos mesmos, ou estamos condenados a uma regressão civilizacional de contornos imprevisíveis.
Repare-se na histeria dos media, dos patrões, dos economistas e dos políticos neo-liberais a propósito do calendário de feriados para o ano 2011. Todos à uma, se preparam para mais um avançada nesta luta titânica entre os detentores dos meios de produção e os detentores da força de trabalho, leia-se patrões e trabalhadores sejam estes últimos detentores de contratos de trabalhos ou precários. Os primeiros Já estão a ganir, como cães esfaimados perseguindo a manada onde pressentem uma qualquer fraqueza, uma qualquer fragilidade. A pretexto dos feriados do calendário para o ano 2011, onde alguns deles podem proporcionar “pontes”, nomeadamente os que coincidem com as terças e quintas-feiras como são os casos do 20 de Abril, do 10 e 23 de Junho, do 15 de Agosto, do 1 de Novembro ou do 1 e 8 de Dezembro e eventualmente mais um ou outro, preparam-se para mais uma investida dura no que confere aos direitos de quem trabalha e produz riqueza. Já querem renegociar com a Santa Sé os feriados religiosos. Cavaco, já uma vez pretendeu legislar no sentido de suprir ou deslocalizar feriados nacionais. O 1º de Maio e o 25 de Abril estavam entre eles.
Curiosamente, calam-se como os ratos, no que confere aos feriados de 1 de Janeiro, de 25 de Abril, de 1 de Maio ou de 25 de Dezembro que coincidem com dias de descanso semanal.
Na vida real, os cães de fila são apenas isso, cães…
Espalhafatosos e barulhentos, não são sérios nem credíveis, são apenas serviçais que agitam e afugentam as manadas, desnorteando-as para que os verdadeiros predadores, as possam caçar isoladamente, sem os riscos que a força colectiva lhes pode causar.
Ah, os cães!... Pois, os propriamente ditos, da carne comem pouco, saciam-se com os ossos que sobram da refrega.
Fabulando ou não das duas uma; ou a manada continua a desvalorizar as investidas dos cães e estes executam livremente o seu papel, desfazendo a sua coesão e expondo-a às garras dos predadores, ou esta reinveste na força colectiva como garante da sua própria sobrevivência. Ao afugentar desde já a canzoada, mantém-se coesa para enfrentar os predadores.
Até porque no que confere à sobrevivência, as manadas não dependem dos predadores, são estes que dependem delas…

Também editado no "O Sono do Monstro"

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Exposição comemorativa do 40º Anivr. da CGTP

A 1 de Outubro de 1970, 4 direcções sindicais de Lisboa (Caixeiros, Lanifícios, Metalúrgicos e Bancários) convocam a 1.ª Reunião Intersindical.
De 1970 a 2010 aconteceram 40 anos de um percurso que transformou a central sindical na maior organização social portuguesa, com um longo caminho de imensas conquistas sociais que são, hoje, património do país.
Sob a lema “Marcamos o Tempo com a Luta de quem Trabalha” assinala-se este percurso, esta marcha histórica da luta dos trabalhadores, assumindo um papel relevante na dinâmica social, de progresso e de desenvolvimento do país, nomeadamente com uma exposição comemorativa a inaugurar, hoje, dia 3 de Dezembro, a partir das 18 horas e que, até 11 deste mesmo mês, acolherá, na Praça Luís de Camões, em Lisboa, 16 painéis evocativos.
Para além de imagens ilustrativas da história da central e das diversas lutas dos trabalhadores – algumas, aliás, com uma carga histórica e um valor simbólico de inexcedível relevância, como sejam, por exemplo, a repressão antes do 25 de Abril, o primeiro 1.º de Maio, a conquista das 40 horas – a exposição será acompanhada de diversa documentação que pontuará as diversas etapas e períodos mais marcantes da vida da então Intersindical, hoje, CGTP-IN.



Texto produzido pela CGTP

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Calhordas!

Sérgio Sousa Pinto é um cínico. Um tipo cuja retórica me enoja e causa vómitos.
São 23:30, Estou a ver e a ouvir na televisão Sousa Pinto, o Sérgio, justificar a posição do governo e do PS no que confere à antecipação da distribuição dos dividendos, nomeadamente da PT, aos accionistas ainda este ano, fugindo dessa forma à tributação e com isso o país perde 258, 6 milhões de euros.
Sócrates tinha declarado, quando se começou a falar na decisão da PT em antecipar a distribuição dos dividendos, que seria moralmente inaceitável que a PT fizesse isso, mais, Sócrates declarou que já tinha feito sentir à administração da PT a sua contrariedade por essa opção.
Mas hoje, o PS mandou ás ortigas os seus pruridos e preconceitos morais e vergonhosamente chumbou a tributação dos dividendos antecipadamente distribuídos.
Sérgio como bom pau mandado que é, veio justificar que não se podem alterar as regras a meio do jogo…
Apetece-me chamar-lhe mentiroso.
Mas, mais que mentiroso, o moço invoca e apresenta um ar de superioridade moral que me incomoda.
Vamos lá então a esclarecer: As regras para os accionistas não podem ser alteradas a meio do jogo, mas para os trabalhadores já não há regras. Depois de mil promessas o PS, Sérgio Sousa Pinto incluído, manda as promessas para o lixo e não contente com isso rouba literalmente os trabalhadores.
Na verdade a crise é dele, mas quem a paga somos nós…
Mas às vezes isto pode dar uma volta e a malta deixar de pensar com a barriga e entender que os calhordas têm que ser responsabilizados.
Ai têm, têm!...

A lei da vida!...

"Não pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti"(*1)


Neste contexto lamento o desaparecimento de Ernâni Lopes. Porem jamais alinharei com o coro de vassalagens e tributos, que ao longo da manhã lhe têm sido dirigidos.
Não, não é por Ernâni Lopes ter sido um homem de direita – pouco me importam as opções que tomou – mas porque em vida não se coibiu de opinar e agir em prejuízo dos trabalhadores deste país. Ainda recentemente, nas jornadas parlamentares do PSD, defendeu corte de 15 a 20% no salário dos funcionários públicos para fazer frente à crise.
Quem faz propostas desta natureza, sem ao menos pedir iguais contribuições aos poderosos, não pode merecer este coro de elogios. Se da minha parte o fizesse, seria hipocrisia.
Como pessoa cruzei-me com ele uma vez na vida, numa reunião na PT, eu na qualidade de membro da CT e ele como presidente não executivo (chairman) da Portugal Telecom e confesso que não me seduziu, antes pelo contrário, por tudo o que opinou e até pelo conceito de patriotismo que então defendeu. Mas isso são contas de outro rosário…
Faz depois de amanhã (4/12/2010) anos que, na sequência de Camarate, pereceu Francisco Sá Carneiro então primeiro-ministro de Portugal, com ele desapareceu toda a comitiva que o acompanhava no avião, entre eles Adelino Amaro da Costa e Snu Abcassis.
Na época, eu era militar em Estremoz, Regimento de Cavalaria, quando tomei conhecimento do acidente e do seu desfecho, a morte de todos os ocupantes, confesso que irreflectidamente manifestei algum regozijo. Ao contrario do que pensavam outros portugueses acerca de Sá Carneiro, para mim ele era “apenas um inimigo” e tive aquela desconcertante atitude… Atitude, que embora possa ser compreensível à luz das paixões politicas de então e até, da irreverência juvenil, não deixei de lamentar no imediato. Ainda hoje, passados todos estes anos,  me recrimino por isso. Se pudesse voltar atrás, garanto que não manifestaria qualquer satisfação, até porque em boa verdade a não tinha. Tal não significa que tenha mudado de opinião acerca do papel de Sá Carneiro. Não!, Sá Carneiro estava nas antípodas do meu alinhamento político, e hoje, com todos os recuos e travagens ao nosso desenvolvimento, continuo a pensar que o seu pensamento [seu, de Sá Carneiro] estava longe de servir os interesses dos desfavorecidos deste país. Não é por ter morrido que passou a fazer parte da galeria dos heróis ou dos vilões.
A morte enquanto fim físico não pode ser uma esponja sobre a história.
Porem, a morte de um homem é isso mesmo, um fim. O fim de uma vida e de um ser humano, por isso lamento a morte e as atitudes irreflectidas…
Resta-me apresentar os meus pesamos…

(*1) - JOHN DONNE , poeta renacentista

Ainda a manifestação CONTRA A NATO

Recentemente, no decurso da Cimeira da NATO em Lisboa, diversos cidadãos europeus, jovens sobretudo, foram impedidos de entrar em Portugal e de juntar o seu grito aos milhares de manifestantes que em Lisboa reclamaram pela paz e exigiram o fim da NATO.

Também em 2001 ou 2002 não posso precisar fui, juntamente com centenas de outros portugueses, impedido de entrar em España para manifestar o meu protesto contra algo de semelhante que iria ocorrer em Madrid. Na fronteira a demonstração de força por parte dos polícias (Guardia Civil) espanhóis era arrepiante, o armamento que usavam mais parecia que se tratava de uma guerra, a consideração e respeito para connosco não existiu. Os “cães” chegaram mesmo a agredir Francisco Louçã e Miguel Portas. Enfim, mais um episódio da “livre circulação” de europeus no espaço comum. Na realidade, circulação livre, apenas o capital e os capitalistas, para os quais não há fronteiras. Para os cidadãos restauram-se as velhas fronteiras sempre que os interesses dos senhores do mundo sejam postos em causa, como recentemente aconteceu com os cidadãos europeus que pretendiam manifestar o seu protesto em Lisboa contra os senhores da guerra.

Em solidariedade com os activistas impedidos de entrar em Portugal, anexo algumas fotos dos acontecimentos de 2002 na fronteira e da manifestação de protesto que organizamos no próprio dia em Lisboa, bem como do grupo que saiu de Setúbal.















terça-feira, 30 de novembro de 2010

Novembro de má memória

Novembro é para mim, em definitivo um mês de má memória. Não bastava a “destruição do sonho” cuja efeméride foi lembrada na passada Quinta-Feira (25 de Novembro), outra me apoquenta hoje a alma, trata-se da minha saída da Cooperativa do Vidigal no Entroncamento finais de Novembro de 1977.
A quinta do Vidigal fazia parte da Cooperativa Agrícola de Argea.
Ocupada no PREC, claudicou como outras após a saída de Lopes Cardoso do Ministério da Agricultura. Ministério que veio mais tarde a cair nas mãos do sociólogo António Barreto, o coveiro da nossa experiência cooperativista no ramo da agricultura.
Na cooperativa vivi umas das mais extraordinárias experiências que o 25 de Abril me proporcionou, nomeadamente a vida em comunidade. Uma comunidade onde pontificavam militantes das mais diversas correntes de esquerda, sobretudo da esquerda revolucionária, nacional e internacional. Na cooperativa coabitavam cooperantes das mais diversas nacionalidades, de alemães ocidentais a belgas, de franceses a espanhóis e portugueses evidentemente, todos irmanados no espírito de que algo estava a mudar, de que “a liberdade está a passar por aqui”.
Não que não tivéssemos divergências… Claro que as tínhamos! Umas de carácter ideológico [Havia quem abraçasse a causa do comunismo, do socialismo… outros eram militantes, maoistas, outros anarquistas e alguns independentes. Havia também quem fosse ateu, outros crentes, católico ou de outro credo, tínhamos connosco um ex-padre católico, sei lá… éramos o que éramos, sem que ninguém perguntasse porque o éramos!] e outras por antagonismos de carácter ou de personalidade. Nada porem que nos impedisse de aprofundar a experiência comunitária bem como a exploração da terra e do lagar.
As razões porque saí do projecto não vêm a propósito – talvez um dia reflicta seriamente sobre elas – o que importa é que saí e que pouco tempo depois, a terra foi devolvida aos “donos”.
“Donos” que a abandonaram, que a devolveram ao pousio permanente, como já antes  tinham votado a terra, os pomares e o olival.
Até o lagar, que foi totalmente recuperado e reactivado por nós, foi abandonado em nome da sacra propriedade e do santo proprietário.
Tudo caiu no abandono, porque a terra não é de quem a trabalha.
As fotos que se seguem – fotos de 2007 – são bem o espelho deste sonho destruído…













Eis o que resta...