domingo, 21 de fevereiro de 2010

Esconder os numeros da tragédia

Em 1967, precisamente em Novembro, 25 e 26, em pouco mais de 12 horas a região de Lisboa foi atingida por fortes chuvas. Conjugadas com as maré cheia viriam a originar uma das maiores calamidades que se abateram Lisboa.
Casas, pontes e pessoas foram arrastados pelas águas em fúria.
Vítimas humanas, muitas. Os dados oficiais controlados pela censura apontaram apenas para 250 vítimas mortais. Todavia, o balanço final terá ascendido a mais de 700 mortos e ficou bem vivo na memória das populações fustigadas. O Diário de Notícias de 29 de Novembro de 1967 indicava 427 mortos, depois o governo impôs o fim da contagem pública dos mortos
A imprensa pro-regime, jubilava perante a «cadeia de solidariedade humana (…) sem distinção de classes», que havia significado a «vitória do homem, que a natureza tinha esmagado», registava entre outros o Diário da Manhã.
Ao contrario, o Solidariedade Estudantil apresentava estatísticas baseadas em dados do Serviço Meteorológico Nacional, e com base nisso demonstrou que apesar dos índices máximos de pluviosidade ter ocorrido no Estoril, as mortes ocorreram nos bairros de lata de Lisboa e arredores e nas zonas pobres do Ribatejo. Também o Comércio do Funchal rejeitava as causas naturais como as responsáveis da catástrofe escrevendo: «nós não diríamos: foram as cheias, foi a chuva. Talvez seja mais justo afirmar: foi a miséria, miséria que a nossa sociedade não neutralizou, quem provocou a maioria das mortes. Até na morte é triste ser-se miserável. Sobretudo quando se morre por o ser».
Numa primeira reacção ás palavras de Alberto João a propósito dos números da tragédia madeirense, ainda fiquei constrangido… afinal de contas o homem está preocupado com a economia da região… Mas depois, um pouco mais a frio, fazendo uma retrospectiva pela memória, dei por mim a caminhar para a Casa do Povo de Castelo de Vide, único local onde então podíamos ver televisão - estava-mos no inverno de 1967 – para pela mão de minha mãe e com mais vizinhos assistirmos as noticias da tragédia que se abatera sobre as gentes de Lisboa. Tinha-mos lá família, vários tios, uns viviam num bairro de barracas em Campolide e outros na estrada da circunvalação, igualmente em barracas…
Isto, é isto que agora me vem á memória. E na cabeça ecoam as palavras de Alberto João e o seu correligionário que dirige a CM do Funchal a esconderem os números da tragédia, com o vago e falso pretexto de não afastar os turistas que são a base da economia da região.
Os fascistas depostos em Abril de 1974 reagiram de igual maneira, e a todo o custo, quiseram esconder os números da tragédia de 1967.
Como a história se repete!

***

Um voto de pesar e solidariedade aos madeirenses e sobretudo aos familiares das vitimas da tragédia que se abateu sobre o território portugues da ilha da madeira.

Sem comentários:

Enviar um comentário