domingo, 24 de maio de 2009

A capacidade de mobilização

Hoje, num comentário à capacidade de mobilização do PCP um amigo, que muito prezo, deu os parabéns ao PCP por essa iniciativa e considerou que “o PCP é absolutamente necessário em qualquer processo de convergências das esquerdas”.

Não estou tão certo disso, pelo menos no que confere aquela direcção partidária, estou longe de a considerar fundamental num projecto politico de tipo novo a que podemos chamar a grande esquerda. Essa convicção eu não tenho, como também não tenho uma relação de "amor-ódio" com o PCP.
Contrariamente, mas cada um é livre de se relacionar com quem quiser e como quiser, a minha relação com o PCP, não tem o esse âmbito. O sentimento de “amor pelo PCP”, mesmo que partilhado com algum “odiosinho” de estimação, não consegue assegurar lugar nos afectos políticos.
Não desejo em nada o reforço do PCP, para além do estritamente necessário para derrubar a actual [ou outras que se desenhem] maioria absoluta. Pessoalmente entendo que uma esquerda grande pode viver bem sem o PCP. Mas, a esquerda grande, pode viver bem sem o PCP, porque este PCP não sabe, quiçá pela sua natureza não pode, coexistir com ela e muito menos nela. Pois se, se arvora a si próprio o exclusivo de esquerda, como a pode partilhar.
Esta direcção arroga-se no direito exclusivo de definir quem é, e quem não é de esquerda. Curioso… há uns tempos atrás o Jerónimo, sem grande convicção é certo, admitia que o Bloco …”enfim… também é de esquerda, já vai participando nas manifestações…”
Mas, voltemos ao cerne da questão, o PCP, e aquela grandiosa manifestação de ontem nas ruas de Lisboa. Embora possa estar errado, no meu entendimento o PCP não adquire por via disso o estatuto de combatente e de indispensável à esquerda. O PCP é o que é, independentemente da sua capacidade de mobilização. Por outro lado a mobilização conseguida, não é, sejamos claros uma consequência da combatividade específica daqueles companheiros, mas também ou particularmente, o controlo exercido sobre muitas ORT’s, sindicatos sobretudo, e até em alguns municípios. Adiante…
Evidentemente, que aquela força tem que ser tomada em conta, não tanto pelo que é, mas mais pelo que pode ou poderia ser. Particularmente quando a direcção do PCP cair “na real” e perceber que o combate politico e o património da esquerda não lhe pertence em exclusivo, o que dificilmente acontecerá, ou quando aquela massa deixar de entender a ligação ao seu Partido, não como um destino ou qualquer “fatalismo”, mas tão só como o resultado de uma reflexão a cada instante. Ser militante de um partido, deve ser um exercício de cidadania que o distinga de qualquer simpatizante de um clube desportivo. Tem que ter sumo e reflexão.
Reflexão e “sumo” que não é um exclusivo do Bloco… Este é aliás um problema transversal a todos os partidos. E é tanto mais preocupante quando atinge significativamente partidos e ou coligações que se colocam deste lado da barricada, que o mesmo é dizer, do lado dos desfavorecidos e do lado daqueles que na hora das partilhas ou não ficam com nada ou lhes cabe apenas as migalhas… Isso preocupa-me e muito…
O que não seria aquela mole humana, se, porventura a direcção tivesse outro entendimento da realidade, que não o de Outubro de 1917?
O meu respeito vai integralmente para os homens e mulheres que dia a dia resistem, que diariamente sofrem na carne e na vida os excessos do neo-liberalismo, que nas empresas ousam enfrentar as tropelias e as ameaças dos gestores e economistas, essa “casta” supostamente superior que se julga predestinada para gerir as nossas vidas… e não tanto para um conjunto de empedernidos funcionários do dirigismo sindical, que perderam toda e qualquer ligação ao mundo do trabalho e do qual conservam, os que conservam, uma ténue lembrança de quando eram operários, metalúrgicos, ladrilhadores, etc., etc.…
Este paradigma não é infelizmente - Sei lá se a palavra adequada é a “felicidade”! – apanágio do PCP, tem também reflexos noutra esquerda que se considera mais moderna, mais actual…
Esta esquerda, dita moderna, apadrinha ou apadrinhou, projectos sindicais que de todo não diferem dos do PCP. E não foi só nas telecomunicações que isso aconteceu. Mais, esta esquerda moderna, transforma funcionários sindicais, isto é administrativos sindicais em dirigentes… supostamente com ligações ao mundo do trabalho, não está pois isenta dos mesmos erros. Tem porem a vantagem de cultivar a democracia e a liberdade de opinião não estar tutelada ao “colectivo partidário” ou ao “nosso” partido.
Se aqueles que referi como credores do meu respeito e estima, se essas mulheres, se esses homens, se esses jovens votam CDU ou PCP, não me incomoda, antes pelo contrário. Incomoda-me sobremaneira aquela direcção partidária, empedernida e parada no tempo, ciosa do seu reduto, que se auto atribui o exclusivo da luta, que se cataloga como a única esquerda, que olha com desdém para todos os outros que não aceitam a sua tutela ou o seu paternalismo. Com essa direcção não quero nada, nem creio que se vá a lado nenhum. Com os primeiros, com esses e essas estou disposto a trilhar todos os caminhos necessários para mudar, a sério a nossa vida. Por isso propus e proponho alianças na base com pessoas concretas, para eleições concretas, que permitam consolidar a força da esquerda e atingir a esfera do poder com base na defesa dos interesses das pessoas que não de grupos organizados ou no cartão de militante.

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