quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Irreverência, escreveu.


Hoje pela manhã, a dona do quiosque onde compro o jornal – que normalmente está maldisposta – estava particularmente mal-humorada. Zangada.

A senhora estava indignada com os grafites feitos durante a noite no quiosque e nos prédios em redor.
Fiquei sem saber o que dizer, dividido entre o politicamente correcto e o incomodo por aqueles garatujes e gatafunhes a torto e a direito.
Um sorriso amarelo foi tudo o que consegui…

***

Agora leio no mesmo jornal que comprei no quiosque, uma reportagem sobre o julgamento dos assassinos, ou assassino, do aluno da Casa Pia.
Não me surpreende a frieza e a ligeireza com que um dos assassinos confessou em tribunal a forma como matou Eucrides Varela de 16 anos em 12 de Dezembro de 2008. Disse ele: «Espetei-lhe a faca, por trás, junto às costas, quando ele estava a levantar-se do chão.»
Mas fico transtornado quando a reportagem refere que: «No banco dos réus sentam-se 16 "miúdos", com idades entre os 17 e os 20 anos, todos portugueses de origem africana, a maioria residente na bairro de Casal da Mira, na Amadora, e alguns do bairro de Porto Salvo, em Oeiras. Sobressaem na irreverência, até no modo de estar em tribunal.»

Irreverência? Francamente!

A irreverência sempre foi motora de transformação radical da sociedade, em busca do bem comum. Confundir “irreverência” com má-criação, com má educação, com ausência de valores constitui porventura um branqueamento das atitudes que a tempo acabaremos por pagar bem caro.
É tempo de chamarmos os bois pelos nomes, e crime é crime independentemente das causas sociais. Estas não podem ser ignoradas, devem alias ser estudadas e ser objecto de reflexão, mas não podem aligeirar e banalizar o crime ou os comportamentos desviantes.
Isto não significa que estas atitudes e comportamentos sejam comparáveis aos crimes de colarinho branco e outros de nível semelhante. Claro que não, o que não significa que não tenham em comum o crime.


PS: Para que não surjam leituras enviesadas do meu post, quero deixar claro que não estabeleço nenhum paralelismo entre os grafites e o julgamento dos assassinos de Eucrides Varela.

Escrevi apenas, ou tentei, sobre a ligeireza com que tratamos comportamentos desviantes e ou aceitamos que nos imponham determinado gosto. Nomeadamente não percebo a razão pela qual sou obrigado a conviver e a aceitar garatujes e outras sujeiras em nome da arte ou da liberdade. Evidentemente que os artistas podem e devem continuar a sua obra, no respeito pelo direito da sociedade… convenhamos… é uma questão de liberdade.

1 comentário:

  1. Crimes de sangue vs os restantes tipos de crimes!
    Há uma grande diferença, mesmo assim!!

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