Escalpelizar o debate entre Louçã e Sócrates ao ponto de encontrar um vencedor e um derrotado é, em minha opinião, um perfeito disparate ou na melhor das hipóteses um mero exercício de entretenimento.
Não se trata de ganhar ou perder, caso contrário abolíamos as eleições e recorríamos a esta ferramenta porventura mais económica, para escolher os governantes e legisladores. O debate, a meu ver, serve para apresentar ideias, denunciar casos e confrontar políticas. E nesse contexto Louçã foi clarificador, deixando Sócrates a apanhar bonés vezes sem conta, nomeadamente quando este defendeu que a operação GALP, visava impedir que a empresa caísse em mãos estrangeiras. Será que José Eduardo dos Santos é português? Mas também quando confrontado com os negócios com a empresa liderada por Jorge Coelho, nomeadamente no Terminal de Contentores de Alcântara, adjudicado sem concurso à empresa ou no negocio da auto-estrada contratualizada por quinhentos milhões e cujo desfecho vai nos mil milhões, [É fartar vilanagem!] Sócrates ficou visivelmente incomodado.
Por outro lado apesar de ziguezaguear, Sócrates não conseguiu neste debate, esconder um esgar facial quando confrontado com o PS/oposição e o PS/governo no que ao Código do Trabalho diz respeito. Louçã foi certeiro quando apresentou o documento assinado por Viera da Silva para corroborar essa desfaçatez e a falta de carácter deste PS. O documento era nada mais nada menos que a declaração política do PS enquanto oposição comprometendo-se com a revogação do Código de Bagão Felix, sendo que essa declaração foi conspurcada pela governação socialista.
Estes incómodos, estes bonés e o ziguezaguear podem ter custos eleitorais, porem aquilo que determinará o voto dos portugueses, é – Eu tenho esperança nisso! – a memória. E se não formos amnésicos seguramente que teremos em boa conta o que Sócrates e a sua equipa fizeram da nossa vida. [Como não nos esqueceremos de Manuela Ferreira Leite e quejandos.]
Poder-se-á argumentar que Sócrates jogou uma cartada forte quando confrontou Louçã com a política fiscal do Bloco, nomeadamente no que confere ao fim de algumas isenções fiscais na saúde e na educação. Falou-se no factor surpresa, Louçã não estaria à espera daquela saída. Não sei… para mim surpreendente, ou talvez não, foi a má fé de José Sócrates. A cartada pode ter sido forte, mas era sobretudo mal intencionada. Mal intencionada e de má fé porque foi apresentada fora de contexto em que está inserida e fez tábua rasa sobre a condição politica para tal acontecer, a qual claramente aponta para a gratuidade dos serviços de saúde e do ensino. Se o Estado garantir esses serviços e com qualidade, como o Bloco propõe, que sentido faz ar isenção fiscal?
No que confere aos PPR, Sócrates apesar da má fé, não foi convincente. Não foi convincente porque no que confere ao ponto anterior, as pessoas não têm o factor de comparação à mão para testar. Na verdade as pessoas apreciam as isenções fiscais e porque nunca usufruíram plenamente de um serviço de saúde gratuito e eficaz, tampouco de um sistema de educação competente e igualmente gratuito não podem fazer comparações. Não podendo comparar, Sócrates pode ter deixado dúvidas e inquietações, mas nos PPR as pessoas sabem perfeitamente que as isenções fiscais se diluíram por completo nos prejuízos decorrentes dos investimentos em bolsa. Os PPR valorizam-se na bolsa e não valorizaram, antes pelo contrário.
Para terminar uma referência a esperteza saloia sobre a regressão ideológica. Gostei da resposta de Louçã, argumentando que sempre foi socialista, laico e republicano ao invés de Sócrates, sabemos, que provem da JSD. A menos que consideremos, como aliás eu encaro [apesar de Louçã achar que o PS é diferente do PSD] que entre o PSD e o actual PS não há diferenças substancias…
Mas como digo, o debate não tem vencedores.
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