sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Um reino maravilhoso, que desaparece perante a ganancia e a incuria do poder


As memórias são o que são, e cada um de nós terá as suas, Fernando Gouveia, autor do texto que pode ler aqui ou aqui, é um transmontano que num belo texto de opinião, penetra nas suas memórias - memórias da Linha do Tua - transportando-nos pela força e beleza do seu verbo aquela extraordinária região [Trás-os-Montes], gémea da minha [Alentejo] na beleza e na desdita, dando nota de um mundo que estando ainda ali, se vai esvaindo e desaparecendo como grãos de areia por entre os dedos, rendido à chamada modernidade, para gáudio das necessidades energéticas do país, mas que em boa verdade consubstanciam a derrota do mundo natural e equilibrado perante a ganância e a incúria das elites do poder politico, mas sobretudo destruído pelo poder económico.
Fiz o penúltimo circuito ferroviário Mirandela – Tua e Tua – Mirandela, no dia seguinte deu-se aquele trágico acidente… Não sei, não posso confirmar, mas tenho a impressão que aquele “acidente” não foi “acidental”… Pois, foi isso, o princípio do fim…
Sou alentejano, dos sete costados – e se mais costados houvesse de mais eu seria – sinto-me bem na minha região e quero-a como se fosse só minha, porem não a quero só para mim… mas também gosto e aprecio a região e as gentes de Trás-os-Montes.
Trás-os-Montes que, segundo Torga, é um "Reino Maravilhoso" que todos podem ver, desde que "os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite".
É este reino que vai ser sacrificado ao desvario e ao deslumbramento dos senhores do poder. Se nos calarmos; se nos remetermos ao nosso canto; se fingirmos que não é connosco; se…
Ao ler o artigo de Fernando Gouveia que descobri na sequência da iniciativa legislativa de “Os Verdes” tentando travar a construção da barragem, uma certa nostalgia tomava-me a alma…
Li e releio, com alguma avidez até, o texto que o autor denominou como “Rio Tua. Fim das memórias”. Diz ele
«Quem conheceu o rio selvagem da minha infância não pode deixar de pensar que o ambiente é feito de memórias de homens, de gerações de homens, envolvidos ao longo duma permanência milenar com uma paisagem característica que determinou uma certa forma de vida e de actividade. Essas marcas de memória estão impressas na paisagem. Essas árvores de fruto plantadas em ravinas, essas oliveiras, essas vinhas velhas, essas colmeias, essas casinhas plantadas de longe em longe, as capelas, as povoações debruçadas sobre o rio, tudo isso é parte duma identidade sedimentada, alheia talvez ao bulício dos negócios, mas consciente dos valores da solidariedade, da vizinhança, do respeito da natureza

Eu acho que não são apenas as memorias que se dissipam, é um bocado de nós que desaparece… Como quando os sinos dobram…
Será que vamos conseguir travar aquele processo?
Não sei... mas podemos tentar, assinando a petição, aqui.

Sem comentários:

Enviar um comentário