terça-feira, 16 de março de 2010

ORT's da PTC - Eleições vs negociações. Um pouco de história.

A meio dos anos setenta, logo após o 25 de Abril, o sindicalismo nas telecomunicações CTT, estava no auge.
Sindicatos relevantes o SNTCT e o SINTEL. O primeiro fortaleceu-se numa aguerrida e determinante luta dos carteiros, e não só, à qual se opuseram dirigentes de partidos de esquerda, acusando a luta destes trabalhadores de estar ao serviço da reacção. Era os tempos da aliança Povo-MFA e da marcha "irreverssivel" para o socialismo.
O segundo (ex-SINTEL, actual SINTTAV) foi o primeiro sindicato paralelo do país, surgiu porque a extrema-esquerda, leia-se UDP, “controlava” o SNTCT . Assim tornava-se necessário um Sindicato da linha ideológica (do Partido), a fim de travar os desmandos “esquerdistas”. Com base nessa permissa e num certo elitismo assente na suposta supremacia da tecnica (telecomunicações opostas aos correios) o SINTEL, nasceu e acabou por ser legalizado primeiro que o SNTCT, numa manobra de antecipação, a que o recentemente falecido Capitão de Abril, Costa Martins, à epoca Ministro do Trabalho, não foi alheio.
A coisa evoluiu ou involuiu e rapidamente ambos os sindicatos passaram a alinhar pela mesma bitola ideológica.
Ao lembrar este naco da história das ORT’s das telecomunicações portuguesas, mais não pretendo que introduzir uma questão que parece estar na ordem do dia no que confere às candidaturas à CT da PT, a julgar pela centralidade que uma das listas atribui à capacidade de negociação dos principais interlocutores de ambas as listas.
Sem querer tecer juízes de valor acerca da coisa, da incapacidade para o dialogo, das atitudes potencialmente intempestivas que possam prejudicar negociações quero lembrar um episódio, assaz repetido, nas negociações entre as ORT’s e a Administração CTT/Telecomunicações. Ai por volta dos anos 78 a 80 a administração das Telecomunicações CTT colocava do seu lado um trabalhador da empresa que desempenhava as funções de ST (gestor de uma dependência das então AT’s) cuja particularidade incidia no facto de ter um percurso profissional em tudo semelhante ao líder sindical. Ambos tinha a mesma categoria profissional, ambos tinham estagiado juntos, ambos eram homens de forte personalidade, com a ligeira diferença de um ter enveredado pelo dirigismo sindical e o outro pelo dirigismo profissional. Na mesa das negociações ficavam frente a frente, um do lado do patrão o outro do lado sindical. Quando o sindicalista intervinha e procurava sustentar as reivindicações sindicais, o outro baralhava, não poucas vezes sussurrava, «comuna» ao que o nosso dirigente, ofendidíssimo com o suposto insulto ripostava com um estrondoso «fascista», a cena repetia-se uma vez e outra.
A estratégia foi sempre a mesma, sussurrante a provocação, estridente a resposta.
E o desfecho era invariavelmente a recusa do dirigente sindical em continuar as negociações com o «fascista» na mesa, ou a Administração a concluir que não havia condições para dialogar com alguém que se exasperava daquela forma e persistia nos «insultos» a um negociador.
O resultado desta firmeza revolucionária foi cerca de oito meses de atraso (sem retroactivos) nas negociações, razão pela qual durante anos as negociações nas telecomunicações CTT tinham lugar por volta do mês de Agosto, em pleno verão com a malta de férias.
Não, não estou a acusar ninguém de nada, nem a estabelecer paralelismos com a CT, muito menos estou a lembrar que alguns dos que hoje se insurgem e reclamam contra o estado de crispação a que se terá chegado nas conversações da CT com o RH da PT-C, são potencialmente herdeiros e ou aliados do, ou dos protagonistas que referi.
Em suma, limito-me a registar acontecimentos reais, factos ocorridos há cerca de trinta anos, fruto de uma época e de um certo tipo de protagonistas. Dos quais, alguns se encontram ainda activamente, como já naquele então, no dirigismo sindical (Razão tem o Sócrates ao prolongar a idade de trabalho útil para lá dos setenta...).
Estranha-se agora, que num rasgo de luz, tenham descoberto que assim não se negoceia. Mas tenham cuidado, não atirem pedras para o ar, os telhados são de vidro.

Pois!…

Tá bem abelha!


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1 comentário:

  1. Pois é Artur Sequeira Portela é claro que o teu comentário não será publicado. Que diabo... seria até um contra censo, né?
    Quanto à cor do lápis, inclino-me mais para o vermelho...

    A propósito dos seus gostos tauromáquicos e da simpatia clubista lembrei-me do Fado do Xico Sapateiro e se o “amigo” se entretivesse a chatear outro?


    (…) foi um caso bem falado
    Quando o Xico sapateiro
    Pôs os chanatos de lado
    E se estreou como toureiro
    (…)
    O touro não esteve pelos ajustes e zás, atirou com o Xico ao ar que parecia um foguetão
    Depois ainda meio desasado o Xico numa aflição comentava:
    (…)
    Aquele bicho danado
    Lá tinha as suas razões
    Trouxe o capote encarnado
    por não saber que o malvado
    torcia pelos leões.

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