"Não pergunte por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti"(*1)
Neste contexto lamento o desaparecimento de Ernâni Lopes. Porem jamais alinharei com o coro de vassalagens e tributos, que ao longo da manhã lhe têm sido dirigidos.
Não, não é por Ernâni Lopes ter sido um homem de direita – pouco me importam as opções que tomou – mas porque em vida não se coibiu de opinar e agir em prejuízo dos trabalhadores deste país. Ainda recentemente, nas jornadas parlamentares do PSD, defendeu corte de 15 a 20% no salário dos funcionários públicos para fazer frente à crise.
Quem faz propostas desta natureza, sem ao menos pedir iguais contribuições aos poderosos, não pode merecer este coro de elogios. Se da minha parte o fizesse, seria hipocrisia.
Como pessoa cruzei-me com ele uma vez na vida, numa reunião na PT, eu na qualidade de membro da CT e ele como presidente não executivo (chairman) da Portugal Telecom e confesso que não me seduziu, antes pelo contrário, por tudo o que opinou e até pelo conceito de patriotismo que então defendeu. Mas isso são contas de outro rosário…
Faz depois de amanhã (4/12/2010) anos que, na sequência de Camarate, pereceu Francisco Sá Carneiro então primeiro-ministro de Portugal, com ele desapareceu toda a comitiva que o acompanhava no avião, entre eles Adelino Amaro da Costa e Snu Abcassis.
Na época, eu era militar em Estremoz, Regimento de Cavalaria, quando tomei conhecimento do acidente e do seu desfecho, a morte de todos os ocupantes, confesso que irreflectidamente manifestei algum regozijo. Ao contrario do que pensavam outros portugueses acerca de Sá Carneiro, para mim ele era “apenas um inimigo” e tive aquela desconcertante atitude… Atitude, que embora possa ser compreensível à luz das paixões politicas de então e até, da irreverência juvenil, não deixei de lamentar no imediato. Ainda hoje, passados todos estes anos, me recrimino por isso. Se pudesse voltar atrás, garanto que não manifestaria qualquer satisfação, até porque em boa verdade a não tinha. Tal não significa que tenha mudado de opinião acerca do papel de Sá Carneiro. Não!, Sá Carneiro estava nas antípodas do meu alinhamento político, e hoje, com todos os recuos e travagens ao nosso desenvolvimento, continuo a pensar que o seu pensamento [seu, de Sá Carneiro] estava longe de servir os interesses dos desfavorecidos deste país. Não é por ter morrido que passou a fazer parte da galeria dos heróis ou dos vilões.
A morte enquanto fim físico não pode ser uma esponja sobre a história.
Porem, a morte de um homem é isso mesmo, um fim. O fim de uma vida e de um ser humano, por isso lamento a morte e as atitudes irreflectidas…
Resta-me apresentar os meus pesamos…
(*1) - JOHN DONNE , poeta renacentista
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