(…) Se eu mandasse neles / os teus trabalhadores / seriam uns amores: / greves eram só/ das seis e meia às sete, / em frente a um cassetete; / primeiro de Maio / só de quinze em quinze anos; / feriado em Abril, / só no dia dos Enganos (…)
Sérgio Godinho
Ou resolvemos no imediato a situação, nomeadamente contra-atacando com a exigência não apenas a reposição de direitos alcançados como ampliando o grau dos mesmos, ou estamos condenados a uma regressão civilizacional de contornos imprevisíveis.
Repare-se na histeria dos media, dos patrões, dos economistas e dos políticos neo-liberais a propósito do calendário de feriados para o ano 2011. Todos à uma, se preparam para mais um avançada nesta luta titânica entre os detentores dos meios de produção e os detentores da força de trabalho, leia-se patrões e trabalhadores sejam estes últimos detentores de contratos de trabalhos ou precários. Os primeiros Já estão a ganir, como cães esfaimados perseguindo a manada onde pressentem uma qualquer fraqueza, uma qualquer fragilidade. A pretexto dos feriados do calendário para o ano 2011, onde alguns deles podem proporcionar “pontes”, nomeadamente os que coincidem com as terças e quintas-feiras como são os casos do 20 de Abril, do 10 e 23 de Junho, do 15 de Agosto, do 1 de Novembro ou do 1 e 8 de Dezembro e eventualmente mais um ou outro, preparam-se para mais uma investida dura no que confere aos direitos de quem trabalha e produz riqueza. Já querem renegociar com a Santa Sé os feriados religiosos. Cavaco, já uma vez pretendeu legislar no sentido de suprir ou deslocalizar feriados nacionais. O 1º de Maio e o 25 de Abril estavam entre eles.
Curiosamente, calam-se como os ratos, no que confere aos feriados de 1 de Janeiro, de 25 de Abril, de 1 de Maio ou de 25 de Dezembro que coincidem com dias de descanso semanal.
Na vida real, os cães de fila são apenas isso, cães…
Espalhafatosos e barulhentos, não são sérios nem credíveis, são apenas serviçais que agitam e afugentam as manadas, desnorteando-as para que os verdadeiros predadores, as possam caçar isoladamente, sem os riscos que a força colectiva lhes pode causar.
Ah, os cães!... Pois, os propriamente ditos, da carne comem pouco, saciam-se com os ossos que sobram da refrega.
Fabulando ou não das duas uma; ou a manada continua a desvalorizar as investidas dos cães e estes executam livremente o seu papel, desfazendo a sua coesão e expondo-a às garras dos predadores, ou esta reinveste na força colectiva como garante da sua própria sobrevivência. Ao afugentar desde já a canzoada, mantém-se coesa para enfrentar os predadores.
Até porque no que confere à sobrevivência, as manadas não dependem dos predadores, são estes que dependem delas…
Também editado no "O Sono do Monstro"
Também editado no "O Sono do Monstro"
No Facebook foram feitos alguns comentários acerca deste meu texto, nomeadamente acerca das expressões usadas, consideradas excessivas, sobre isso tenho a declarar o seguinte:
ResponderEliminarNão creio que tenha exagerado na linguagem, fiz uma leitura efabulando com a vida animal, com vista a exemplificar o contexto de mais um ataque aos direitos do trabalho – mais um de entre muitos, diga-se – em favor dos mesmos de sempre.
A questão de base é esta, perca de direitos por parte do mundo do trabalho, regressão civilizacional dos que vendem diariamente a sua força de trabalho, tenha ela a natureza que tiver, e ganhos do capital [acumuladores de riqueza se quiserem]. Tudo o resto é marginal.
Ainda assim admito que o meu grito de alma, porque efectivamente se tratou disso, tratou-se de um grito, de um protesto – talvez intempestivo – possa ter melindrado algumas pessoas. Ao usar uma linguagem – como direi? – menos adequada ao combate politico palaciano, não quis nem quero atingir a honra ou a dignidade de ninguém. Também não pretendo nem pretendi atingir, quem de boa fé, defende pontos de vista diferentes dos meus. Mas por favor, não me pisem os calos.
O meu verbo é grosseiro, básico, por vezes cáustico ou mesmo irritante?... Talvez!... mas que dizer de quem me vai aos bolsos? Que dizer da gestão politica que presenteia por exemplo com milhões a agiotagem do BPN e nos extorque o ordenado?
Talvez pudesse ter recorrido ao uso de aspas; talvez pudesse adjectivar de forma mais suave; talvez pudesse usar “vozearia” em vez de “ganir”, talvez!... [Já agora esclareço que quando escrevi “como cães esfaimados”, limitei-me a estabelecer um paralelismo, nada mais que isso, a preposição “como” é de comparação e está lá para relacionar comportamentos. E toda a efabulação se enquadra na figura da comparação, nada mais que isso…].
Talvez pudesse calar-me, emudecendo a minha angústia pela fúria neo-liberal, sem precedentes na nossa história contemporânea, que visa claramente a regressão social…
Talvez pudesse silenciar o meu incómodo, talvez!... mas se o fizesse, esse não seria eu.