Habitualmente não me interesso por futebol. Contudo não sou imune ao fenómeno, para cumulo acabo por torcer por três clubes de futebol. O Victória de Setúbal ocupa um lugar de destaque nos meus afectos desportivos, mas, para além do Victória também a Académica, pela velha irreverência que a levou em tempos idos a afrontar o regime deposto em Abril, e claro o Glorioso. O Benfica conclui assim este triângulo de afectos em que, por culpa própria, me deixei enrolar no campo do desporto.
Feita a declaração de interesses vamos “aos finalmente.”
Feita a declaração de interesses vamos “aos finalmente.”
Hoje enquanto tomava o café do almoço, fixei-me na contracapa de “O Record” e dei por mim a ler a crónica de Miguel Góis, denominada “Gigante adormecido”.
Começa assim:
“Eis a ironia: quando, por indolência, me esqueço da grandeza do Benfica, são os adeptos do FC Porto e do Sporting que me fazem ver a verdadeira dimensão do clube da Luz. Numa época em que o Benfica fica em terceiro lugar no campeonato, quem é que o presidente do FC Porto visa nos seus discursos? Curiosamente, não o clube que ficou em segundo lugar. Quem é que os dirigentes do Sporting, há umas semanas, acusavam de pressionar a arbitragem? Curiosamente, não o clube que estava em primeiro lugar. Às vezes, sinto-me culpado por não pensar tanto no Benfica quanto portistas e sportinguistas.”
Mais adiante na sua crónica, Góis alude ao facto de no final da Taça de Portugal edição 2008/2009, de que o Benfica se viu mais uma vez arredado, ter sido ainda assim o objecto da fúria das claques presentes, particularmente da do Fê Cê Pê, a qual se desdobrou em cânticos insultuosos para com o Benfica, nomeadamente associando “Glorioso” a “filhos da puta”. Góis conclui a sua crónica lembrando que quando o Sporting foi eliminado em Munique, os muros da Academia de Alcochete apareceram com mensagens, que os jornalistas consideraram (erradamente) insultuosas para Paulo Bento, pois chamavam-lhe: “Lampião do caralho”, mas que de facto não eram, na medida em que chamar a alguém lampião, longe de ser ofensivo é antes uma glória, a tal ponto que ele, Miguel Góis, quando morrer gostaria de ter na pedra sepulcral a seguinte mensagem: “Aqui jaz Manuel Góis, homem de fraca figura e moral duvidosa mas um lampião do caralho”.
De imediato me veio à memória um suposto desejo do impagável contador de estórias Manuel da Fonseca, o qual teria manifestado a vontade de que na sua pedra tumular ficasse registado a seguinte mensagem: “Aqui jaz um poeta de um real cabrão!”.
Não sei se esta suposta vontade alguma vez foi manifestada pelo escritor ou se, pelo contrario, se trata de uma qualquer piada de contornos anarquistas, numa alusão aos valores do escritor alentejano, comunista e boémio. Inclusivamente até já me desloquei ao cemitério de Santiago do Cacem de onde o poeta era natural, para confirmar, contundo não encontrei epitáfio algum com aqueles dizeres. Adiante! A crónica do Miguel Góis, recordou-me como escrevi acima o suposto epitáfio do Manuel da Fonseca, e porque as lembranças são como as cerejas, outra se lhe seguiu e esta tem a ver com o sonho e a luta diária para os realizar.
O meu afilhado – Sim, não sou praticante nem seguidor de religião alguma, mas tenho um afilhado. E orgulho-me dele. O meu afilhado é jornalista, um jovem jornalista. Já trabalhou à peça, embora actualmente tenha um contrato. Mal pago é certo mas… do mal, o menos…
Tal como o Miguel Góis o meu jovem afilhado também, para além de jornalista, é Benfiquista. Jovem na idade mas já um “velho” benfiquista, em suma o meu afilhado é um lampião dos sete costados e sofredor… Ai o que ele sofre pelo Benfica…
Mas ele tem um sonho, não, não é apenas o de voltar a ver o Benfica campeão… Esse também… embora não seja o principal. O meu afilhado quer ser jornalista (desportivo?) de um jornal a serio.
Mas ele tem um sonho, não, não é apenas o de voltar a ver o Benfica campeão… Esse também… embora não seja o principal. O meu afilhado quer ser jornalista (desportivo?) de um jornal a serio.
Manuel da Fonseca, o autor do suposto epitáfio tumular, realizou os seus sonhos. Realizou-os, vivendo-os, dizia.
Por isso a proposito do teu sonho afilhado, lembro-te que o Manuel da Fonseca aconselhava: “Não deixes que nenhum filho da puta te roube os teus”.
É isso mesmo, não deixes que te roubem o sonho.
Nunca!
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