terça-feira, 16 de junho de 2009

Um ancião reconhecido.

Mário Soares, cuja lucidez aos oitenta e tal anos, faz inveja a muita gente, tem tanto de lúcido quanto de gratidão.
Soares é um homem agradecido, um ancião reconhecido.
Soares não esquece favores nem quem de alguma maneira o distinguiu.
Quando o bom senso aconselhava a calçar as pantufas e a cingir-se ao papel de “reserva da nação” eis que o velho Mário coloca o elmo e de lança em riste propôs-se travar Aníbal.
Mais que o bom senso, falou então o “animal político” que vive dentro dele.
Teve adversários à sua altura, internos até – estou a lembrar-me de Manuel Alegre – mas foi o apoio decisivo do actual timoneiro do partido que fundou que o fez catapultar-se para aquele combate desigual.
Ao invés da prestação de Manuel Alegre, o resultado obtido por Mário Soares foi decepcionante. De tal maneira que nem o contagiante sorriso de Joana Amaral Dias quebrou o gelo daquela noite eleitoral socialista, digo soarista. Soarista porque, ao contrário do que se possa imaginar, o verdadeiro candidato de José Sócrates ganhou as eleições daquela noite.
As pequenas querelas que têm nos últimos tempos oposto Sócrates a Cavaco, são circunstanciais, nada para levar a sério. Hecatombe eleitoral “socialista”, foi no passado dia 6. E será ainda mais pesada nas legislativas do final do ano, se a amnésia não tomar conta de nós.
Mas, para Soares escrevia, o que importou verdadeiramente foi os apoios e os desapoios. Manuel Alegre ficou marcado, Soares jamais lhe perdoará a afronta. Em contrapartida, Sócrates é credor da sua gratidão.
A tal ponto que nem mesmo depois do descalabro eleitoral socialista nas europeias, Soares deixou cair o novo amigo. Novo. Novo claro, antes das presidenciais, Soares [na campanha do filho João] mimoseou José Pinto, também conhecido por Sócrates, com alguns mimos pouco condizentes com o que hoje publicamente diz de Sócrates.
Adiante! O descalabro eleitoral é inteiramente da responsabilidade do ex-militante da JSD e actual líder do PS. Claro, outros rapazolas também têm a sua cota parte de responsabilidade no processo. Lurdes Rodrigues, Augusto Santos Silva, Correia de Campos, Pinho e tantos outros são igualmente responsáveis, mas Sócrates é o rosto da política do governo. Ele é o responsável pela derrota e pela politica governamental. Mas não para Soares.
Soares continua assim a pagar a factura do apoio “socrateriano”. Hoje no D.N. Mário Soares escreve que é injusto, como “o futuro o demonstrará” a penalização que o eleitorado impôs a Sócrates.
Eu acho que tudo isto é apenas gratidão, mas vezes há em que… sei lá a idade não perdoa…

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