terça-feira, 30 de junho de 2009

A visão "retrógrada" dos sindicatos ao pé destes criminosos é uma ninharia, uma exiguidade

Ontem no Prós e Contras ouvi com particular atenção o meu camarada de partido António Chora, tratava-se da primeira intervenção pública depois de fracassado o acordo na Auto-Europa de que ele era um defensor, visto que o negociou com a administração.
Mas a questão não andou à roda desse tema e focalizou-se mais nas relações entre parceiros sociais, nesse contexto Chora foi interpelado no sentido de explicar um ponto de vista expresso num artigo da sua autoria. Nesse artigo António Chora considerava que tanto os sindicatos quanto os patrões são "retrógrados".
Instigado a explicar esse ponto de vista o líder da CT da Auto-Europa explicou-se, embora de forma não muito clara, dizendo que a expressão "retrógrada" naquele contexto tinha a ver com o facto de os sindicatos na mesa de negociações continuarem agarrados às conquistas, algumas do tempo do PREC, mantendo-se irredutíveis na sua defesa sendo incapazes de ceder um milímetro que seja e em contrapartida o patronato estar apostado em reconquistar a situação antes do PREC. Uns e outros são nesse contexto "retrógrados", defendeu António Chora.
Como eu o percebo, como eu o entendo…
Na verdade, qualquer negociação pressupõe capacidade de ceder aqui, para ganhar ali, sendo que há matéria em que de todo não pode haver cedências. A questão muitas vezes consiste em saber separar umas das outras. Separar as negociáveis das não negociáveis, como também faz sentido percebermos a realidade dos tempos, e as alterações que ocorreram.
A revolução tecnológica, a Europa, o fim da guerra-fria, a globalização, a emergência de novos mercados, etc… criaram dinâmicas novas que de todo não podem ser descuradas.
Neste contexto, de facto há sindicatos que têm dificuldade em adaptar-se à realidade.
Atenção, adaptação não significa claudicar ou assinar de cruz qualquer acordo, até porque o outro parceiro, é como diz o Chora, uma entidade apostada regra geral em regressar ao 24 de Abril.
Acho que apesar dos esforços, o meu camarada não foi suficientemente convincente, pelo menos a mim soou-me muito mal, a forma como defendeu o seu ponto de vista.
Para começar deveria ter-se levantado e explicar, com exemplos até, o sentido da sua opinião. Mais, na metalurgia, de onde provem, não faltam factos que permitem ilustrar a sua opinião. Embora curta, a história da Auto-Europa é fértil em exemplos de um e de outro ponto de vista. O Sindicato dos Metalúrgicos tem sido crítico aos diversos acordos celebrados na Auto-Europa entre os trabalhadores, via CT, e a Administração. António Chora deveria ter ilustrado o seu ponto de vista com os exemplos que conhece da realidade da fábrica em que labuta. Deveria ter clarificado o que o distingue em concreto daquela estrutura sindical . Foi mais eficaz a mensagem, quando referiu exemplos do grupo Volkswagen , das negociações entre sindicatos alemães e a administração.
A questão da correlação de forças é outra variável que os sindicatos nem sempre têm em conta e por vezes arrastam-nos para becos sem saída. Sobre esta matéria Chora nada disse.
Outra questão a meu ver importante e que talvez seja determinante para modernizar os nossos sindicatos prende-se com uma pratica corrente na Auto-Europa de Palmela e que consiste na representatividade das diversas sensibilidades na ORT da fábrica, por força do Método de Hondt, bem como a envolvência dos trabalhadores nas grandes decisões pois os acordos só são rubricados mediante acordo dos trabalhadores por voto secreto mas antecedido de plenários que ajudem a formar opinião e a debater as diversas saídas.
Estas duas vertentes são porventura factor decisivo na destrinça entre sindicalismo em fim de ciclo, o tal “retrógrado” a que Chora se referiu, e o sindicalismo de tipo novo que se quer envolvente, participado, democrático e lúcido.
Contudo, eu militante do mesmo partido do Chora revi-me muito mais no discurso de Carvalho da Silva, que no meu camarada por uma razão muito simples. As coisas não acontecem por acaso, e esta crise não caiu do céu aos trambolhões, esta crise tem culpados e esses não são seguramente os trabalhadores.
É certo que a pergunta de Fátima Campos Ferreira estava armadilhada, e António Chora caiu nela que nem um patinho. Mais que a visão "retrógrada" dos sindicatos e até dos patrões há que identificar os culpados e esses, repito o que disse Carvalho da Silva, não são os trabalhadores.
Era tão simples António Chora, até porque horas antes um desses responsáveis foi condenado a 150 anos de prisão.
Condenado nos EUA, aqui continuam a pavonear-se e a receber chorudas indemnizações, pensões e mordomias vitalícias.
A visão "retrógrada" dos sindicatos ao pé destes criminosos é uma ninharia, uma exiguidade. Que carece de mudança evidentemente.
Carvalho da Silva mostrou mais uma vez que é o excelente “líder operário”.


1 comentário:

  1. "Contudo, eu militante do mesmo partido do Chora revi-me muito mais no discurso de Carvalho da Silva, que no meu camarada por uma razão muito simples." Escrevi.

    Revi-me e revejo-me, porem tal não significa que me reveja nas criticas que uma certa esquerda (serão mesmo esquerda?) que por ai anda vai fazendo ao BE a propósito da Auto-Europa, nomeadamente quando tenta ligar o BE à UGT.
    São mentirosos empedernidos.
    É por estas e por outras que apesar dos reconhecidos valores humanos que militam no PCP, cada vez tenho mais dificuldade em perceber ao que andam. Não percebo eu e não percebem os trabalhadores de um modo geral, se o inimigo deles é o Bloco de Esquerda ou se, pelo contrário o adversário é o capital e a alta finança, o PSD, o CDS, o PS de Sócrates.

    A catarse do PCP e dos seus militantes, sobretudo os do mundo sindical, realiza-se malhando no Bloco.

    Não dá para entender, tanta raiva, tanto ódio, tanta dor… é que convenhamos, correm o risco de se desgastar a combater o Bloco e não ter depois energia para o combate sem tréguas que urge fazer contra os responsáveis por mais esta crise.
    Não tenho pachorra para o PCP!

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